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Foto do escritorVanessa Cavalcanti

Santa Catarina vem se beneficiando do crescimento na produção do mercado náutico nos últimos anos

O Movimento que acelerou ainda mais durante a pandemia. De acordo com dados da Associação Náutica Brasileira, o mercado de barcos apresentou um crescimento de 30% em 2020. O estado catarinense tem quase 200 estaleiros e é hoje um dos maiores polos brasileiros na produção da indústria náutica, principalmente com produção em Palhoça, São José, Itajaí e fabricantes de menor porte em Florianópolis e Biguaçu.


Com a necessidade de isolamento e as dificuldades para realizar viagens internacionais, os olhos passam a se voltar às oportunidades de entretenimento oferecidas dentro do país e da forma mais segura possível. Assim, os 7.367 km de litoral, com trechos de tirar o fôlego e regiões de beleza ímpar, fazem do Brasil o paraíso para quem ama desbravar o mar.

E não é somente na produção que vemos esse “boom”; aquelas pessoas que têm interesse e podem investir nessa modalidade mais luxuosa de divertimento procuram Santa Catarina, por suas possibilidades e belezas naturais. Foi o caso do jogador de futebol Neymar, que recentemente fez um passeio de barco no Caixa D'Aço, paraíso de águas mornas e transparentes, localizado em Porto Belo. A praia é conhecida por ser o ponto de encontro de embarcações de todos os tamanhos, com uma espécie de “mini eventos” privativos. Além deste local, toda a região do litoral catarinense, principalmente de Florianópolis e Balneário Camboriú, também teve aumento expressivo na utilização e nos passeios contratados por aluguel para explorar as águas que encantam turistas de todo o mundo.

De acordo com Nelson Mitake, designer que atua há dez anos no mercado náutico, houve uma mudança no perfil do consumidor desse segmento. Mitake é professor renomado nesta área e vai ministrar disciplinas no curso de pós-graduação em Design de Interiores Náuticos da Faculdade Cesusc.

— O brasileiro está descobrindo o barco , que sempre foi um bem inacessível, ligado à classe AA, algo seleto, considerado um objeto de desejo. Mas a democratização do barco é um movimento em ascensão e começou com as pessoas comprando barcos novos e trazendo para cá. Quando eles ficavam velhos, tornavam-se mais acessíveis e eram passados para outras mãos, eram vendidos a um preço acessível. Hoje, tem muitos barcos usados, reformados com um upgrade, o que justifica a sua popularização.. Antes da pandemia, feiras e marinas estavam lotadas.





O designer afirma que com a pandemia, essa tendência de valorização do mercado ficou ainda mais forte, pois as famílias querem aproveitar as férias como sempre fizeram, porém agora com o quesito segurança e distanciamento.. Além da aquisição individual, grupos de parentes e amigos também têm optado pela compra compartilhada por meio de cotas. Assim, são diluídos os investimentos para locação e manutenção.

Com pequenos e mega iates em alta, decoração precisa de profissional especializado


Quando este processo de democratização do acesso às embarcações teve início, as pequenas e médias embarcações– que medem entre 12 até cerca de 40 pés - tiveram os maiores aumentos na produção, diferente dos grandes, entre 50 e 80 pés e dos megaiates, entre 90 até 150 pés.


— Hoje o maior crescimento é tanto para aqueles abaixo de 20 pés como acima de 100. Com a corrida aos estaleiros, algumas categorias ficaram desabastecidas. Um barco pequeno custa cerca de 60 mil reais, valor similar ou menor do que muito carro. E, a vantagem é que os fabricantes catarinenses conseguem produzir todos esses tamanhos de barcos.

Pequenos ou grandes, não importa, de qualquer forma, os barcos são como uma segunda casa, e seu mobiliário é distinto. Toda a decoração precisa ser feita de forma diferenciada - seja na utilização de materiais, iluminação de ambientes e normas técnicas. A distribuição do peso, estrutura da embarcação, isolamento, proteção contra água - com produtos resistentes à umidade, maresia e calor - circulação de ar, armazenamento e descarte de dejetos, além da criação de áreas para lazer também são parâmetros que devem ser levados em consideração.


Um outro detalhe é que o barco pode balançar bastante, e os projetos precisam ser adequados, muitas vezes com cantos mais arredondados, além disso o fogão não pode ser fixo, para não derramar as refeições. A iluminação precisa ser totalmente embutida, não pode ter pendentes ou fios soltos, como abajures. Ainda, o armário deve ser especial, com mobilidade conforme os movimentos, e com travas nas portas. Ou seja, uma ergonomia especial, a embarcação é mais compacta e o projeto precisa refletir essa mudança.

Mitake reforça que além de ser uma casa flutuante,o barco também é um meio de transporte. Todos os requisitos de uma casa normal precisam ser oferecidos dentro da embarcação, com acessórios como louças, cortinas, roupas de cama que atendam às necessidades dos proprietários, e que também ofereçam resistência à condição diferenciada de estar em alto mar. O designer de interiores náuticos precisa criar o projeto, de forma a contemplar noções de engenharia e administração de obras, lidando com artesãos como marceneiros e fabricantes de fibra de vidro.


Você vai ao estaleiro, estuda o estilo do acabamento, calcula quanto vai gastar para realizar esse projeto de interiores e ainda, precisa cuidar de atributos técnicos com materiais e revestimentos específicos para os barcos. Deve-se considerar que estamos trabalhando emuma máquina, portanto há consumo de combustível, manutenção, peso, entre outros. O designer ainda é o responsável pelo cronograma, define onde vai acontecer a reforma, busca uma marina, contrata a mão de obra para execução e começa o acompanhamento.


Depois que o barco fica pronto, afirma Mitake, o teste final é a melhor parte.

— Uma das melhores coisas é depois de finalizar o projeto, ter o prazer de experimentar, fazer o teste da embarcação. Lembro de uma vez que fomos testar e tivemos a companhia de golfinhos, que participaram do passeio. Foi realmente incrível!

Setor movimentado

A maior procura por embarcações beneficia a produção da indústria, com o fornecimento de matéria-prima para os estaleiros, além de favorecer a aquisição de bens de consumo e a indústria do turismo.

Também contempla a geração de empregos, tanto de forma direta quanto indireta, as empresas de comércio exterior, que atuam na importação de insumos e equipamentos e na exportação dos barcos fabricados no país. Ainda, são formalizados empreendimentos de aluguéis de barcos, pois alguns proprietários disponibilizam seus barcos para essa finalidade durante o período do ano em que estão ociosos.

— Cresce também a indústria de serviços internos, marinas, hotéis, lojas, restaurantes e eventos, assim como a indústria de fornecedores, em cidades como Joinville, Blumenau, que abastecem desde peças até roupas de cama sofisticadas – lembra o designer.

Em Itajaí, a marina recém-inaugurada possui estrutura com capacidade para 355 embarcações em vagas secas e molhadas. Na capital, os catarinenses ainda aguardam o projeto da marina e parque urbano sair finalmente do papel. O contrato para o início das obras, por meio de concessão, já foi assinado. Outras marinas, importantes nesse cenário estão localizadas em Balneário Camboriú e Porto Belo .


Segundo Mitake, os maiores consumidores estão localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Santa Catarina. Ele afirma que o diferencial do produto fabricado no Brasil tem sido a aliança entre a qualidade das matérias-primas e o design diferenciado para o mercado de luxo, reconhecido internacionalmente.

Mercado em expansão exige mão de obra qualificada

Pensando no aumento da demanda por profissionais relacionados ao setor náutico, a Faculdade Cesusc lança um curso de pós-graduação inédito no país, o de Design de Interiores Náuticos. O curso é voltado aos profissionais de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia e Tecnólogos em Design de Interiores.

Nora Rebollar, coordenadora do curso de Design Náutico da Faculdade Cesusc, destaca que esse é o primeiro curso de pós-graduação no Brasil nessa área, voltado à preparação de mão de obra para estaleiros.

— Com o agravamento da pandemia e o isolamento social, a área náutica se expandiu muito, a venda de embarcações cresceu, gerando um aumento na fabricação dos estaleiros. Mas falta mão de obra, principalmente na área de interiores. Se você quiser comprar uma lancha hoje, precisa aguardar pelo menos 90 dias, porque há muita demanda reprimida por profissionais na área.

Segundo a professora, até para reformar uma lancha ou um barco faltam pessoas especializadas.

— Santa Catarina tem quase 200 estaleiros. São portas que se abrem para mão de obra, e optamos por lançar esse curso pensando nisso.


Com corpo docente qualificado e com ampla experiência no setor, o curso de Design de Interiores Náuticos terá disciplinas sobre o histórico das embarcações; o processo criativo para a prática de projetos de interiores; o mobiliário específico; ergonomia náutica, além de iluminação e sonorização. O curso será ministrado aos sábados, de forma remota, com aulas ao vivo.

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